sábado, 19 de abril de 2025

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64 Anos Sem Dom Carlos Duarte Costa: O Bispo Reformista que Desafiou a Igreja Católica Romana

Rio de Janeiro, 26 de março de 2025 – Hoje marca o 64º aniversário da morte de Dom Carlos Duarte Costa, o Bispo de Maura, um dos personagens mais controversos e influentes da história religiosa do Brasil. Nascido em 21 de julho de 1888, no Rio de Janeiro, Dom Carlos dedicou sua vida à fé, à justiça social e à defesa de um modelo de Igreja voltado para o povo. Sua trajetória foi marcada por grandes reformas e rupturas, culminando na fundação da Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB), em 1945, após seu afastamento da Igreja Católica Romana.

Origens e Formação Religiosa

Dom Carlos Duarte Costa nasceu em uma família tradicional, crescendo em um ambiente de forte influência católica. Desde cedo, demonstrou vocação para o sacerdócio e ingressou no Seminário de São José, no Rio de Janeiro. Foi ordenado sacerdote em 1º de abril de 1911 e, devido ao seu brilhantismo intelectual e sua capacidade pastoral, rapidamente ascendeu na hierarquia eclesiástica.

Em 4 de julho de 1924, foi nomeado bispo da Diocese de Botucatu, no interior de São Paulo, pelo Papa Pio XI. Durante seu bispado, Dom Carlos destacou-se por sua luta pelos direitos dos trabalhadores rurais, criticando a exploração e as condições precárias de vida da população mais pobre. Sua visão progressista e sua defesa da “Igreja do Povo” começaram a chamar a atenção, tanto positivamente entre os fiéis, quanto com desconfiança por parte do alto clero da Igreja Católica.

O Bispo Reformista de Botucatu

À frente da Diocese de Botucatu, Dom Carlos implementou reformas que desafiavam as estruturas tradicionais da Igreja Católica. Ele defendia uma maior participação dos leigos na vida eclesiástica, o fim do celibato clerical obrigatório e o uso da língua portuguesa na liturgia, antecipando algumas das mudanças que seriam promovidas décadas depois pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).

Além disso, ele criticava abertamente a aproximação da Igreja Católica Romana com governos autoritários, denunciando abusos e violências cometidas contra os mais pobres. Suas posições progressistas geraram conflitos com o Vaticano e, em 1937, sob pressão, renunciou ao governo da Diocese de Botucatu. Mesmo afastado da administração da diocese, foi nomeado bispo titular de Maura, título honorífico sem jurisdição sobre uma diocese ativa.

O Racha com o Vaticano e a Fundação da ICAB

Nos anos 1940, a relação de Dom Carlos com a Igreja Católica Romana tornou-se insustentável. Em meio à Segunda Guerra Mundial, ele criticou duramente a omissão do Vaticano diante dos crimes cometidos pelo regime nazifascista. Além disso, suas propostas de reformas estruturais eram vistas como uma ameaça ao controle tradicional do clero.

Em 1945, após repetidos atritos com a Cúria Romana, Dom Carlos Duarte Costa fundou a Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB), uma instituição independente que mantinha muitos dos dogmas da fé católica, mas com uma estrutura mais democrática e voltada às necessidades do povo. A ICAB abolia o celibato clerical obrigatório, permitia o casamento dos sacerdotes e promovia a celebração das missas em português.

A fundação da ICAB levou à sua excomunhão automática pela Santa Sé, em 6 de julho de 1945. No entanto, para Dom Carlos, sua missão estava apenas começando. Ele passou a se dedicar à organização da nova Igreja, consagrando bispos e ordenando padres alinhados com sua visão de um catolicismo mais acessível e igualitário.

Resignação e os Últimos Anos

Mesmo com a oposição da Igreja Romana, Dom Carlos seguiu sua trajetória de defesa dos direitos humanos e do compromisso social da Igreja. Nos anos 1950, ele intensificou sua atuação política, criticando duramente a desigualdade e a injustiça social no Brasil. Seu trabalho foi reconhecido por muitos como pioneiro na busca por uma Igreja verdadeiramente voltada para os pobres.

Em meados dos anos 1950, já idoso e enfrentando problemas de saúde, Dom Carlos começou a se afastar das funções administrativas da ICAB, mas nunca abandonou sua missão pastoral. Ele faleceu em 26 de março de 1961, aos 72 anos, no Rio de Janeiro. Seu funeral reuniu milhares de fiéis que viam nele um verdadeiro defensor da justiça e da fé.

O Legado de Dom Carlos Duarte Costa

Seis décadas após sua morte, Dom Carlos Duarte Costa continua sendo uma figura inspiradora para aqueles que acreditam em uma Igreja mais inclusiva e comprometida com os direitos humanos. Sua luta pela modernização do catolicismo antecipou muitas das mudanças implementadas posteriormente pelo Concílio Vaticano II, consolidando sua reputação como um dos grandes reformadores da Igreja no século XX.

Em 1970, a Igreja Católica Apostólica Brasileira canonizou Dom Carlos como São Carlos do Brasil, reconhecendo sua contribuição para a fé e sua dedicação ao povo. Hoje, sua memória segue viva, sendo reverenciada por fiéis e estudiosos da história religiosa.

Conclusão

O legado de Dom Carlos Duarte Costa transcende sua ruptura com a Igreja Católica Romana. Ele foi um bispo que ousou desafiar as tradições em nome da justiça e da inclusão, e sua história segue sendo um exemplo de coragem e compromisso com os mais necessitados. Se hoje há maior abertura para reformas dentro da Igreja, muito se deve à luta de figuras como Dom Carlos, que, há mais de meio século, já sonhava com uma Igreja verdadeiramente do povo.

Dom Frei Lucas Macieira
Arcebispo Primaz da The Anglican Free Communion International – Province of Brasil
Jornalista social e escritor.

Imagem remasterizada e digitalizada por Dom Frei Lucas Maceira com auxílio de I.A.

Redação Geral Gazzeta Paulista
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