Com a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, o Brasil pôs fim oficialmente à escravidão, libertando mais de 700 mil pessoas. A Igreja Católica, embora tenha tido setores que defenderam e até se beneficiaram da escravidão ao longo da história colonial e imperial brasileira, também contou com vozes importantes que condenaram a prática como contrária à dignidade humana e ao Evangelho. Após a abolição, surgia um novo desafio: o que fazer para garantir a integração, dignidade e justiça para os libertos?
A visão cristã da dignidade humana, fundamentada na crença de que todos são filhos de Deus e iguais em dignidade, exigia da Igreja um papel ativo na promoção da inclusão social dos ex-escravizados. Bispos e padres progressistas defenderam que o fim da escravidão não deveria ser apenas legal, mas também social e econômica. Ou seja, não bastava libertar — era necessário oferecer condições reais de vida digna: acesso à terra, educação, trabalho e cidadania.
No entanto, a atuação da Igreja Católica após 1888 foi desigual. Em algumas regiões, a Igreja organizou iniciativas de acolhimento, como escolas, associações religiosas e obras de caridade voltadas aos libertos. Em outras, permaneceu omissa diante da exclusão social que se aprofundava. A ausência de uma política pública eficaz por parte do Estado, aliada à falta de uma mobilização nacional mais ampla da Igreja, resultou em grande parte dos ex-escravizados sendo deixados à própria sorte, marginalizados nas cidades e no campo.
Documentos eclesiásticos posteriores reconheceram que o Brasil libertou os escravizados, mas não os integrou — uma crítica que ecoa até os dias de hoje. No século XX, especialmente após o Concílio Vaticano II (1962-1965) e com o surgimento da Teologia da Libertação na América Latina, a Igreja passou a assumir uma postura mais crítica em relação às injustiças estruturais herdadas da escravidão.
Em síntese, após 13 de maio de 1888, a visão da Igreja Católica deveria ter se voltado, mais firmemente, para a promoção da justiça social e da reparação histórica. Onde isso aconteceu, foi fruto de um evangelho comprometido com os pobres e marginalizados. Onde não aconteceu, foi reflexo das contradições internas da Igreja e da sociedade brasileira.
Materia do Reverendo Padre Francisco, da Ordem de Santo André Apóstolo