Quantas saudades sinto hoje da solidariedade e das atenções dos meus novos amigos jornalistas que
recebi depois da imersão na minha pior tragédia no fatídico dia 20/11/24, quando forças malignas encarnaramse no corpo de dois policias militares, outros oficiais e autoridades do Estado de São Paulo, atentaram
covardemente até de três maneiras contra a vida do meu filho caçula Marco Aurélio, que hoje seria medico,
até arrancar ele de mim sem puder salva-o e sem os deuses aceitar, eu de joelho, a troca da minha vida por a
dele.
Hoje tem se passado já 180 dias, meio ano, tempo suficiente para inventar curas, fazer descobertas
cientificas, oportunidade de terminar guerras, peças de artes realizadas, porém para nós, somente tristeza e um
sentimento de injustiça e raiva contra os criminosos e cumplices protegidos e pagos pelo Governo do Estado
de São Paulo. Como Einstein demostrou, seis meses pode ser simplesmente um número, uma estatística, uma
burocracia, um fator para muitos, para outros como nós, uma hora é uma eternidade.
Conhecendo a mesma dor e injustiça em outras famílias pobres e humildes vítimas também da
violência policial, virei desde um cientista internacional idealista na busca de alternativas para salvar a
humanidade, para uma espécie de guerrilheiro urbano marchando com o punho levantado nas ruas, escrevendo
cartas e manifestos, e encarando as autoridades. Dias de lágrimas, angustias e lutas em várias frentes foram
meu novo objetivo. Na luta no campo da legalidade, reclamei e enfrentei Comandantes da Polícia Militar,
Delegados da Policia Civil, Corregedores da Policia Militar, Promotores, Juízes e o mesmo Governador do
Estado que abaixaram suas cabeças e lamentaram o crime hediondo, porém a força da violência policial e da
impunidade permaneceu como um câncer metastático incurável.
Amigo, dia a dia perceberão que todos estamos nesta guerra civil ou far-west, como disse bem o
Ministro Lewandowsky, onde por um lado tem aqueles policiais criminosos cujo princípio é a violência e a
injustiça e ficam armados com coletes à prova de balas, pistolas e viaturas e por outro lado as famílias cuja
força é o amor pelos seus filhos e cujas armas são suas lagrimas, cartas e manifestações. Onde está você?
Quantos gestos de grandeza e humanidade vi também em outras pessoas idealistas, algumas
autoridades e intelectuais que minha mão estreitou e que sei que se sentirão citadas nesta frase. Amigos
jornalistas, que conforto vocês nos deram, com muita coragem, ética e profissionalismo, para poder expressar
a nossa dor e revolta frente a este magnicídio. Quantas saudades Leandro, Paulo, Lucas, Pedro, Fabiola,
Isabela, Laura, Aline, Gonçalo, Renan e muitos outros… sempre guardarei gratidão e carinho por vocês.
Há poucos dias em um evento de protesto propondo a federalização da investigação da violência
policial do qual participei, me deram a honra de falar no final. Em um auditório abarrotado na Zona norte de
São Paulo diante de muitas mães que perderam seus filhos e outras gentes que sofreram violência policial e
frente a imagem do meu filho num cartaz gigante, exclamei:
“Marco Aurélio não foi um rapaz pobre como os outros. Ele voou acima das pirâmides de México,
visitou a tumba do Che Guevara em Cuba, ficou ao pé da Torre Eiffel e bateu foto dentro do Coliseu Romano.
Mas a dor e o sofrimento na alma dos pais de um filho inocente morto pela polícia é universal e eterno.
Encarei com toda a força a todas as autoridades e como vocês somente consegui até agora injustiça e impunidade.
Desde tua partida, cada dia novo é meu último dia, o amanhã não existe para mim. Por isso quero
lhes dar uma mensagem a vocês mães, que também é uma promessa que farei. Sendo adolescente de 17 anos,
e vendo não poder cumprir as minhas promessas de moleque, decidi nunca mais fazer uma. Passei a vida
toda assim, mas esta noite pensei em me dar uma nova oportunidade e resgatar parte do que um dia eu fui.
Assim, depois de tudo este tempo de dor e de luta, frente a você Marco Aurélio, que não estas mais
aqui, porque estarás no céu, nas estrelas ou em outra dimensão… te prometo:
Quando na minha vida lembre de você e fique cheio de angustia e lágrimas, chorarei sim, mas depois
me levantarei e sorrirei. Sempre seguirei sorrindo!
Quando na minha luta tenha batalhas perdidas, retrocessos e resistências, ficarei triste e desolado
sim, mas depois me levantarei e sorrirei. Sempre seguirei sorrindo!
Quando na minha luta vença batalhas ou ajude a outras mães vencer as delas, ficarei contente,
celebrarei e sorrirei. Sempre seguirei sorrindo!
Quando caiam os inimigos um por um, celebrarei sim e sorrirei. Sempre seguirei sorrindo!
Marco Aurélio, quando chegue ao final dos meus dias, e fique triste por ter que me despedir dos seres
queridos e de vocês, ficarei triste, chorarei sim, mas depois sorrirei, porque saberei que por fim poderei te
abraçar!
Marco Aurélio presente!!!
Vila Mariana, São Paulo, 20 de maio de 2025
Dr. Julio C. Acosta Navarro, PhD, PhD
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo