Gazzeta Paulista: Dom Frei Lucas, o senhor é um nome conhecido na comunidade anglicana e também entre casais que buscam cerimônias com acolhimento e sensibilidade. Quem é o homem por trás do título episcopal?
Dom Frei Lucas Macieira: Sou, antes de tudo, um nordestino que carrega a fé no coração. Nasci em Fortaleza, Ceará, em 17 de abril de 1974, e meu nome de batismo é Iranildo Macieira da Silva. O chamado veio cedo — um fogo que não se apaga. Fundar a ORDEM DOS FRADES MENORES DA DVINA PROVIDÊNCIA EM 2004, bispo da Diocese Anglicana Católica do Brasil, através do mandado apostólico de Dom José Antônio Costa Raposo, (immemoria) foi uma resposta a esse chamado: criar uma casa espiritual que acolhesse todos, especialmente os que se sentem excluídos.
Gazzeta Paulista: A Igreja Episcopal Latina do Brasil segue a linha anglo-católica independente. O que isso significa na prática?
Dom Frei Lucas: Significa que unimos a tradição e a liturgia da Igreja Católica com a liberdade pastoral da tradição anglicana. Não estamos subordinados a Roma, mas caminhamos em comunhão com a fé apostólica, preservando o essencial: os sacramentos, a sucessão apostólica e a centralidade do Evangelho. É uma fé viva, que respira o século XXI sem trair as suas raízes.
Gazzeta Paulista: O senhor também tem se destacado como celebrante de casamentos e batizados fora do circuito tradicional. Isso é visto por alguns como “ousado”.
Dom Frei Lucas: (Risos) A ousadia do Evangelho é amar sem fronteiras. Atuo em Belo Horizonte, Contagem e Esmeraldas, em Minas Gerais, celebrando com alegria casamentos, inclusive de pessoas divorciadas, uniões inter-religiosas e batizados de famílias diversas. Jesus não fez triagem de almas; quem sou eu para fazê-lo? A bênção é universal.
Gazzeta Paulista: Recentemente, o senhor esteve sob proteção do Estado após sofrer ameaças de morte. Como foi enfrentar essa situação?
Dom Frei Lucas: Difícil, mas necessário. As ameaças começaram quando fui chamado a depor como testemunha de um crime ocorrido em 2005. Na época, eu integrava outra congregação e recusei participar de um complô que terminou na morte de um empresário. Por dizer “não” à injustiça, virei alvo. A verdade tem preço — e às vezes esse preço é a própria segurança. Mas sigo de cabeça erguida. Um bispo não pode temer as sombras quando carrega a luz.
Gazzeta Paulista: Essa experiência mudou sua maneira de ver a Igreja e o mundo?
Dom Frei Lucas: Sim, profundamente. Aprendi que servir a Deus é também enfrentar o mal com serenidade. A Igreja, para mim, é mais que um templo — é um refúgio para os que buscam paz, e uma trincheira para os que lutam pela justiça. A fé não é anestesia, é resistência.
Gazzeta Paulista: E o que o futuro reserva a Dom Frei Lucas?
Dom Frei Lucas:Mais trabalho, mais evangelho, mais amor. Quero continuar celebrando a vida, unindo corações, e mostrando que a Igreja pode — e deve — ser um lar para todos.
Equipe de Jornalismo Religioso e Comunitário
Fonte: Arquivo pessoal e declarações exclusivas de Dom Frei Lucas Macieira da Silva