Neste 4 de novembro, o Dia da Favela ganhou uma nova dimensão histórica com o lançamento das recomendações políticas do Favelas 20 (F20), iniciativa liderada por comunidades faveladas do Rio de Janeiro para dar espaço aos territórios periféricos nos debates de políticas internacionais. As recomendações serão entregues ao governo brasileiro e a autoridades internacionais, reforçando o protagonismo dessas comunidades na construção de políticas públicas.
A cerimônia de lançamento, realizada no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, trouxe à tona uma frase de Bertolt Brecht: “Não digam nunca, isso é natural, a fim de que nada passe por ser imutável”. A mensagem ressoou como um chamado à transformação, enfatizando que as vozes de comunidades historicamente marginalizadas são fundamentais na construção de um mundo mais justo e sustentável.
Com foco nos três eixos principais da presidência brasileira do G20 — combate às desigualdades, sustentabilidade e reforma da governança global — o Favelas 20 (F20) apresentou recomendações que conectam desafios socioeconômicos e ambientais de forma integrada. Entre as pautas prioritárias, destacam-se:
•Combate à pobreza, fome e desigualdades;
•Promoção da saúde mental e segurança pública;
•Acesso à água potável, saneamento básico e higiene;
•Resiliência frente a desastres naturais;
•Inclusão digital e cultural;
•Finanças sustentáveis.
Para René Silva, cofundador do Favelas 20, a inclusão dessas pautas no debate internacional é um avanço para a representatividade das favelas: “As vozes das realidades periféricas são frequentemente silenciadas. Os nossos desafios e nossas perspectivas são deixados de lado. Estamos aqui para mostrar que as favelas fazem parte da solução e podem contribuir com políticas públicas significativas”, colocou ele na oportunidade.
Colocando a Favela no Centro das Decisões
O F20 reforça o papel central das favelas e periferias na construção de políticas duradouras. O acesso a saneamento básico, tecnologias digitais e oportunidades econômicas foi apontado como essencial para o desenvolvimento local e como forma de combater a exclusão estrutural. Representantes como André Guterres, do projeto Rolé Favela Geek, alertaram para a necessidade de garantir a inclusão digital e o acesso à informação como um direito humano, especialmente em áreas afetadas por conflitos internos.
Para Thainar Xavier, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), iniciativas como o F20 representam um movimento histórico de reivindicação de direitos e ampliação de voz para a população das favelas, que compõem 22% da população carioca. Adriana Sotero, da Fiocruz, reforçou que água e saneamento básico são direitos que devem ser defendidos publicamente, ressaltando a importância de um debate sobre privatizações e acesso universal a esses serviços essenciais.
Desafios Locais, Respostas Globais
O Favela 20 propõe uma nova abordagem para o desenvolvimento sustentável, reconhecendo a diversidade de desafios enfrentados por cada comunidade. Kaê Guajajara, indígena do Complexo da Maré, destacou o papel das favelas como espaços de resistência e a importância de construir políticas públicas que respeitem as particularidades dos povos indígenas e afrodescendentes.
Com esse lançamento, o F20 estabelece marco para a inclusão das vozes periféricas nas políticas globais, trazendo soluções criadas por quem vive diariamente os desafios de suas realidades. A mensagem é clara: como dizia a escritora Carolina Maria de Jesus, “O que me prejudica não é o que eu sou, é o que os outros pensam que eu sou.” E o F20 mostra que as favelas não são apenas cenários de problemas, mas também de potência e inovação para um mundo mais inclusivo e solidário.