É com perplexidade e indignação que recebemos a nota pública do chamado “Instituto Brasil Pela Liberdade”, que, ironicamente, ataca um marco do cinema contemporâneo com uma retórica anacrônica e carregada de paranoia ideológica. O filme *Eu Ainda Estou Aqui*, premiado com o Oscar, não é um instrumento de doutrinação, mas sim uma obra-prima da sétima arte, um testemunho poderoso da resiliência humana e um convite à reflexão sobre tempos sombrios da nossa história.
A tentativa de reduzir essa produção cinematográfica a um simples “panfleto comunista” não apenas distorce seu significado, mas também escancara o medo irracional que certos setores nutrem diante da cultura, da arte e do pensamento crítico. Essa postura evidencia um desejo de silenciar qualquer narrativa que não se alinhe ao discurso da homogeneidade forçada e do conformismo cego.
O que o Instituto chama de “instrumentalização da cultura” nada mais é do que a própria função da arte: provocar, questionar e emocionar. *Eu Ainda Estou Aqui* é um filme que honra a memória daqueles que foram esquecidos pela história oficial e dá voz a personagens que representam milhões de pessoas marginalizadas ao longo do tempo. Seu impacto transcende qualquer rótulo ideológico e ressoa como um alerta necessário para que tragédias do passado não se repitam no futuro.
A ironia maior é que a nota de repúdio do Instituto Brasil Pela Liberdade denuncia uma suposta censura futura ao mesmo tempo em que busca desqualificar e deslegitimar uma obra de arte apenas porque esta não se encaixa em sua visão limitada de mundo. O verdadeiro cerceamento de ideias vem justamente desse tipo de ataque, que tenta desautorizar a diversidade de pensamento e interditar debates legítimos.
Rejeitamos essa tentativa torpe de rebaixar um feito artístico a uma conspiração ideológica e reafirmamos nosso apoio à liberdade de expressão — não a uma liberdade seletiva que só vale para um lado, mas a uma liberdade real, onde todas as vozes, inclusive as incômodas, possam ser ouvidas.
A cultura não será silenciada. A arte não se dobrará ao medo. E *Eu Ainda Estou Aqui* será lembrado não pela histeria daqueles que o atacam, mas pelo impacto que já começou a deixar na história do cinema e na consciência coletiva.
**Assinado:**
Jornaista Marcelo Cunha
da Gazzeta RJ filada a Gazzeta Paulista