Na história recente das comunidades cristãs, tem surgido uma triste figura: o “bispo” que não sabe o que é ser bispo. Um homem que se autoproclama pastor, ou que até recebeu ordenação válida, mas sem preparo, sem estudo, sem a mínima intimidade com a liturgia e com a história da própria instituição que diz representar.
É vergonhoso quando alguém que veste a mitra não distingue sequer a liturgia das horas de uma oração qualquer, que desconhece os Padres da Igreja, que ignora os concílios, que não sabe fundamentar sua fé na Palavra e no Magistério. A liturgia, que é a alma da Igreja, torna-se um teatro improvisado em suas mãos.
A Tentação do “Bispo Administrativo”
Muitos desses autoproclamados escorregam para um disfarce: dizem que são “mais administrativos”, “mais de gabinete”, “mais para papel”. Mas a Igreja de Cristo não chamou ninguém para ser escrivão; chamou para ser pastor. A administração é ferramenta, não vocação. Se a cadeira episcopal vira apenas mesa de escritório, então não há sucessão apostólica, há apenas burocracia.
O Peso da Mitra
O bispo, desde os tempos apostólicos, carrega o peso do rebanho sobre os ombros. A mitra não é coroa de honra, é lembrança da cruz. A sucessão apostólica não é pedigree, mas sangue derramado. Não basta ter as mãos impostas, é preciso ter os joelhos dobrados em oração e os pés firmes no caminho do Evangelho.
Pastores ou Funcionários?
Cristo não disse a Pedro: “Seja um bom administrador dos papéis”. Ele disse: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,17). O episcopado é serviço, não status; é entrega, não carreira; é sacrifício, não vaidade. Quando um bispo prefere o conforto do título ao cansaço da missão, transforma-se em funcionário de si mesmo, e não em pastor de Cristo.
Conclusão: A Igreja Não é Empresa
A Igreja não é ONG, não é cartório, não é associação. A Igreja é Corpo vivo de Cristo, e a liturgia é a respiração desse Corpo. Um bispo sem liturgia é como um pastor sem cajado, como médico que não sabe usar o estetoscópio. É vazio, é ridículo, é trágico.
Que este artigo seja um alerta: quem deseja o episcopado deseja uma obra boa (1Tm 3,1), mas que se prepare, que se forme, que se entregue. Porque não há espaço, no Reino de Deus, para bispos de papel.
Dom Frei Lucas Macieira
Teólogo e Jornalista Social