Numa iniciativa inédita entre os tribunais do país, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) realizou, nesta quinta-feira (19/12), a cerimônia de entronização do Oxê de Xangô – o Machado Sagrado – que representa a justiça, o equilíbrio e a igualdade para os povos de tradicionais de matriz africana.
Para o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo, a importância da iniciativa é de reconhecer a existência de símbolos religiosos dentro de um Estado laico, sem que eles influenciem às decisões do julgador.
“O Estado é laico e não deixará de ser, mas temos que reconhecer a existência dos símbolos e todos podem conviver harmoniosamente” – ressaltou o presidente.
O Oxê de Xangô está exposto entre os auditórios Desembargador Antonio Carlos Amorim e Desembargador Nelson Ribeiro Alves, localizados no Fórum Central do Poder Judiciário fluminense, no Centro do Rio, reinaugurados nesta quarta-feira (19/12) pelo presidente do TJRJ. A proposta dos auditórios será receber os principais eventos jurídicos promovidos no Rio de Janeiro, com grande movimentação de pessoas.
A doação do Oxê de Xangô ao TJ do Rio foi liderada pela Iyalaxé Arethuza Dória de Omidayè, membro da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil – OAB/RJ, e do presidente da Igualdade Racial do Instituto dos Advogados do Brasil, Humberto Adami Santos Júnior. A iniciativa é resultado do Pacto da Igualdade Racial, assinado pelo presidente do Tribunal de Justiça do Rio com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e que busca a construção de uma sociedade mais igualitária e o desenvolvimento de importantes parcerias.
“O Oxê de Xangô simboliza a ancestralidade e a busca por justiça e reparações históricas, representando o equilíbrio e a luta por igualdade. Este é um dia de luz e esperança, fruto do trabalho coletivo de todos que vieram antes e dos que continuam lado a lado na busca por justiça e igualdade racial. A ação de hoje não é uma conquista individual, mas o resultado de uma construção coletiva e histórica em prol da igualdade e reparação” pontuou Arethuza Dória.
Presidente do Comitê de Promoção da Igualdade de Gênero e de Prevenção e Enfrentamento dos Assédios Moral e Sexual e da Discriminação, o desembargador Wagner Cinelli está à frente do trabalho de resgate da história com o objetivo de fazer uma reflexão sobre o período escravocrata no país.
“A parceria com as comissões tem fortalecido ações como a Trilha da Memória, a atualização da cartilha dos povos de matriz africana e outras iniciativas que promovem a diversidade cultural. O Oxê de Xangô não é apenas um símbolo religioso, mas também cultural, representando o Orixá da justiça, em harmonia com os valores do Tribunal de Justiça – disse o desembargador, que ao final da sua apresentação, leu trechos de uma música que compôs há cerca de 10 anos, em que relata a dor dos escravizados submetidos às torturas no cativeiro.
Símbolo representa equilíbrio e imparcialidade
Com lâminas duplas e que, em cada uma tem olhos para ver a verdade, o Machado Sagrado de Xangô considera ambos os lados de uma questão. Segundo Arethuza Dória, o Machado de Xangô está além do simbolismo religioso. Para os povos de matriz africana, o instrumento representa uma mensagem de equilíbrio e imparcialidade.
A cerimônia contou também com a participação da desembargadora Ivone Caetano, da Mãe Márcia d’Oxum, filha da lendária Mãe Menininha, do Terreiro do Gantois, em Salvador, além de representantes de entidades dos povos de matriz africana.
Materia enviada pela Assessoria de comunicação do Instituto dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro