Primeira edição do prêmio foi entregue na noite desta terça-feira (19) a sete mulheres que se destacaram em ações e trabalhos nas áreas de pesca e aquicultura
A1ª edição do Prêmio Mulheres das Águas, iniciativa que busca dar visibilidade, reconhecimento e fortalecer o protagonismo feminino nos meios pesqueiro e aquícola, foi entregue a 7 ganhadoras na noite desta terça-feira, 19 de março, em cerimônia com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Hotel Royal Tulip, em Brasília.
“Vocês representam mulheres marisqueiras, indígenas, quilombolas, caiçaras, ribeirinhas, pantaneiras. Mas, também, mulheres gestoras, pesquisadoras e líderes. Empreendedoras. Mães. Mulheres que têm nas mãos, no olhar e na sabedoria os rumos de uma atividade, de uma comunidade, de uma família”
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Presidente da República
A premiação reconhece e homenageia mulheres que se destacaram em ações e trabalhos nas áreas de pesca e aquicultura, promovendo sustentabilidade, justiça social, respeito aos territórios e dignidade humana. Foram recebidas 149 histórias inspiradoras de protagonistas do setor em 23 estados, além do Distrito Federal.
“A conexão entre as mulheres e as águas vai muito além do papel de cuidado e nutrição. Ela é profundamente simbólica. As águas representam o ciclo da vida, a fertilidade e a renovação. Refletem a força, a resiliência e a grandeza das mulheres, e o que nós ouvimos aqui, nas histórias da Joana, da Lilian, da Ofélia, da Maria José, da Myuki, da Joice e da Nara são exemplos extraordinários dessas qualidades”, pontuou Lula durante a homenagem.
O presidente ressaltou que, ao falar das mulheres, “nunca é no singular”. “Vocês são únicas em suas histórias, mas também são várias. Vocês representam mulheres marisqueiras, indígenas, quilombolas, caiçaras, ribeirinhas, pantaneiras. Mas, também, mulheres gestoras, pesquisadoras e líderes. Empreendedoras. Mães. Mulheres que têm nas mãos, no olhar e na sabedoria os rumos de uma atividade, de uma comunidade, de uma família”, afirmou, destacando que o reconhecimento não está à altura da presença, da dedicação e da importância das mulheres no setor de pesca e aquicultura.
O ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, destacou a importância de reconhecer o trabalho de mais de 500 mil pescadoras no país. “Hoje é dia de colher, é dia de premiar, de homenagear, jogar luz sobre sete histórias de vida que merecem todos os nossos aplausos. Merecem ser celebradas para que se transformem em exemplo e para que suas vozes continuem a ser ouvidas pelas gerações que virão”, disse.
Ressaltando o papel da mulher em qualquer espaço, inclusive na pesca e na aquicultura, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, afirmou que não haverá retrocesso. “Nós vamos chegar onde nós quisermos. Se eles querem nos mandar para a cozinha, nós não vamos voltar. Se eles querem que a gente vá lavar roupa, nós não vamos lavar. Nós vamos continuar sendo pescadoras, marisqueiras, professoras, deputadas, nós vamos ser o que nós quisermos, onde nós quisermos, da forma que nós quisermos, com salário igual, com todos os direitos iguais”, avisou.
“A mulher nasce para fazer o que ela quiser fazer, porque ela é dona do seu nariz”, endossou o presidente Lula.
Conheça a história das vencedoras do Prêmio Mulheres das Águas
Categoria: Aquicultura
- Ganhadora: Ofélia Maria Campigotto, de Gaspar/SC
Ofélia Maria Campigotto começou na atividade aquícola aos seis anos de idade, quando a família precisou recorrer à aquicultura para sobreviver, produzindo peixes para garantir a própria alimentação. Ao se aposentar, Ofélia pôde utilizar suas economias para comprar um sítio onde pudesse cultivar peixes – seu sonho de infância.
“Pra quem tem raízes na aquicultura, foi uma realização ter meu próprio sítio. Esse também era um sonho do meu marido, que sempre me incentivou muito”, destacou Ofélia ao relembrar que participou da presidência da Associação Catarinense de Aquicultura (Acaq), exercendo liderança com foco no bem-estar e no desenvolvimento do setor.
Categoria: Pesca Artesanal em Águas marinhas
- Ganhadora: Joana Mousinho, de Itapissuma/PE
Pescadora artesanal da cidade de Itapissuma (PE), Joana Mousinho é a primeira pescadora brasileira eleita presidente de uma colônia de pesca em 1989. Atualmente com 67 anos, sua história com a pesca artesanal surgiu na infância. De família tradicional pesqueira, ela se destaca na luta pelo reconhecimento das mulheres pescadoras, direitos sociais, na defesa do meio ambiente e pela saúde das mulheres na atividade.
Joana também foi uma das fundadoras da Articulação Nacional das Pescadoras (ANP). Sua cidade natal, Itapissuma, liderou a luta para que as mulheres tivessem o reconhecimento como pescadoras artesanais e foram as primeiras no Brasil a terem o Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP).
“As mulheres preservam muito mais, têm muito mais cuidado com o meio ambiente, com a natureza, e mulheres são sempre mais cuidadosas”, destacou a pescadora.
Categoria: Pesca Artesanal em Águas continentais
- Ganhadora: Lilian Gonçalves, de Maraã/AM
A jovem de 22 anos é da cidade de Maraã, no Amazonas, e, em meio às águas do rio Japurá, Lilian acompanha seus familiares no manejo do pirarucu desde a infância, trabalhando na proteção da espécie na região de lagos, contra a pesca predatória do peixe que está ameaçado de extinção.
Lilian participa das atividades de monitoramento do acordo de pesca de sua região, leciona na comunidade e faz parte da organização socioprodutiva que participa do Projeto Rural Sustentável (PRS) da Amazônia. “No início, a pesca não tinha a mesma participação de mulheres que vejo hoje, eram mais homens que trabalhavam e não tinham nenhum tipo de benefício ou trabalho coletivo, era muito individual. Hoje isso vem mudando, os pensamentos das pessoas, a organização no setor e a busca por mais reconhecimento, valorização e proteção dos nossos territórios e recursos naturais”, disse.
A jovem afirmou que o prêmio surge para encorajar outras mulheres no setor e para reconhecer e valorizar o trabalho das que já estão inseridas. “Hoje a mulher ocupa o espaço que ela quiser”.
Categoria: Pesca industrial/indústria do pescado
- Ganhadora: Nara Regina de Souza, de Porto Velho/RO
Filha de ribeirinhos, natural de Itacoatiara (AM), Nara Regina de Souza é presidente da Cooperativa de Piscicultores, Aquicultores, Pescadores, Produtos Rurais e Extrativistas do Estado de Rondônia (Cooppeixe). Conhecida pela forte piscicultura, Nara apostou na indústria do pescado e se tornou a primeira proprietária de frigorífico de peixes da cidade.
Além da produção própria de 12 tanques de Tambaqui, Pintado e Pirarucu, o frigorífico também adquire pescado de outros 40 criadores de Rondônia, beneficiando mil quilos de pescado por dia. A maior parte da produção da empresa é destinada à merenda escolar de 98 unidades de ensino.
Pablo Roberto, filho de Nara, acompanha a mãe desde pequeno na produção de tambaqui. Os filhos de Pablo, de seis e três anos, também seguem a profissão da família. “Eu fico orgulhoso de ver ela. Ela é minha vida. Ela é uma mulher empreendedora que inspira e leva o tambaqui de Rondônia pro mundo”, admira Pablo.
Categoria: Pesquisa
- Ganhadora: Maria José Ranzani de Paiva, de São Paulo/SP
Doutora em Ecologia e Recursos Naturais com pós-doutorado e atuação na área de sanidade de organismos aquáticos – hematologia, Maria José ingressou no serviço público em 1972, no Instituto de Pesca, onde permaneceu até sua aposentadoria, em 2019, contribuindo para a produção de conhecimento e gestão da pesca por 47 anos.
A pesquisadora reforçou a importância da pesquisa científica para o desenvolvimento da área do conhecimento em ictiologia (ramo da zoologia devotado ao estudo dos peixes) e aquicultura, participando da formação de profissionais atuantes nessas áreas.
Categoria: Gestão pública ou privada
- Ganhadora: Miyuki Hyashida, de Palmas/TO
Ganhadora da categoria gestão pública ou privada, a paulista Miyuki Hyashida mudou-se para o Tocantins nos anos 90, quando deu início ao seu empreendimento aquícola. Com experiência de 30 anos no setor, sua fazenda na cidade de Brejinho de Nazaré (TO) é referência em genética e produção de peixes nativos, entre eles, Tambaqui, Surubim Pintado e Tambatinga.
Atualmente, Miyuki é secretária de Estado da Pesca e Aquicultura em Tocantins, foi prefeita da cidade de Brejinho por três mandatos e também atuou como secretária de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Empreendedora e gestora de sucesso, Miyuki aplica transparência e eficiência em suas atividades que contribuem para o desenvolvimento da piscicultura e garantia da segurança alimentar no Tocantins.
Categoria: Pesca amadora e esportiva
- Ganhadora: Joice Carla Marques, de Corumbá/MS
De Guaíra (PR), a ganhadora na categoria “Pesca Amadora e Esportiva”, Joice Carla Marques, se consolidou em Corumbá (MS) com seu empreendimento no turismo pesqueiro. Seus cruzeiros fluviais de pesca esportiva e ecoturismo no Pantanal contam com barcos-hotéis sustentáveis, adaptados aos aspectos geográficos da região. Indicada ao prêmio pela Associação Nacional de Ecologia e Pesca Esportiva, a empreendedora se mudou para Corumbá aos 19 anos, no início dos anos 90, foi quando se tornou secretária de uma empresa de turismo da região.
Atualmente, Joice conta com mais de 100 colaboradores que operam durante o período da piracema (período de defeso), quando os peixes sobem a correnteza em direção às cabeceiras dos rios para se reproduzirem. Essa ideia alterou a dinâmica do turismo na região. Além de oferecer capacitação e qualificação aos colaboradores, a empresária foca na sustentabilidade em seus cruzeiros de pesca pelo Pantanal, mantendo o cuidado com o descarte de resíduos, conscientização do turista que visita a região com a mudança completa das práticas de pesca antiga para a pesca esportiva – pesque e solte.
ASSINATURAS – O ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, e a ministra da Saúde, Nisia Trindade, assinaram, durante a solenidade, um protocolo de intenção para o desenvolvimento de um programa de saúde integral para as Mulheres das Águas.
Também foi assinado como parte das ações para as pescadoras, junto com a ministra das mulheres, Cida Gonçalves, o Acordo de Cooperação Técnica (ACT) “Mulheres pescando autonomia e igualdade”. O acordo tem por objetivo fortalecer as organizações de pescadoras artesanais por meio de políticas públicas que estimulem a produção e promovam a valorização do trabalho, além de assegurar a autonomia econômica e a igualdade de direitos, visando a cidadania plena dessas mulheres.
Materia envida pela assessoria de Comunicação da Presidência da Republica