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Ainda Estou Aqui não é só sobre Oscar

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AINDA ESTOU AQUI não é só sobre Oscar

O recebimento da premiação do Oscar, como melhor filme estrangeiro, Ainda estou aqui é motivo de comemoração para os brasileiros, mas, não sabemos se para todos, pois, não se trata só de um filme premiado.

Ainda estou aqui, representa nesse momento, um marco simbólico da memória e luta contra os horrores da ditadura cívico-militar, instalada no Brasil e de reflexão crítica do atual cenário político brasileiro, a partir da importância da figura de três mulheres: Eunice Paiva, Fernanda Torres e Dilma Rousseff.

É um filme que fala do assassinato de um deputado, Rubens Paiva e a luta de sua esposa Eunice Paiva pela verdade, com outras tantas leituras possíveis, mas, com a marca indelével do seu espírito de justiça.

Verdade esta, que, segundo Marcelo Rubens Paiva, só foi possível alcançar a partir da coragem de uma outra mulher também, Dilma Vana Roussef que, quando presidenta eleita pelo Partido dos Trabalhadores (PT), promoveu condições concretas para a instalação da Comissão da Verdade, com o objetivo de apurar os crimes cometidos durante o regime militar.

Dilma Rousseff, que foi presa e torturada em São Paulo ( Oban e DOPS), no Río de Janeiro e Minas Gerais, sofrendo horrores nas mãos dos militares e agentes civis da ditadura, orientados e treinados pelos agentes da CIA, dos Estados Unidos e financiados pelas empresas privadas, como destaca o relatório da Comissão da Verdade, entregue à presidenta Dilma, em 2014.

Nesse relatório aparecem nomes como, o Banco Mercantil de São Paulo, o Bradesco, além de empresas como Grupo Ultra, Ford, General Motors, Volkswagen, Fiat, Camargo Corrêa, Objetivo, Folha de S.Paulo, Nestlé, Petrobras, General Electric, Mercedes Benz, Siemens e Light.

As contribuições eram arrecadadas nas reuniões na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Quem teve a coragem de ler o livro Um relato para a história: Brasil Nunca mais , prefaciado por D. Paulo Evaristo Arns, tem ali um recorte das atrocidades cometidas e subsidiadas pelos empresários brasileiros que apoiaram o golpe militar, organizando ações como a Operação Bandeirantes (Oban), em São Paulo, financiando a repressão e a tortura, violando os direitos humanos de milhares e milhares de pessoas.

Em 2016, diante do desmascaramento público e oficial do regime militar, os golpistas contumazes voltaram à carga e deram um novo golpe, dessa vez , destituindo com a ajuda do Congresso Nacional, a presidenta Dilma, eleita democraticamente pelo voto direto e sem ação concreta que justificasse o “impeachment”, mas sim como parte do plano de calar e invisbilizar a verdade. Sofreu um golpe por ousar resistir, mais uma vez, àqueles que tiveram suas mãos manchadas de sangue de muitos trabalhadores, dentre os quais, estudantes, artistas, metalúrgicos, dirigentes sindicais ou qualquer pessoa que expressasse o mínimo descontentamento com a ordem instituída pela ditadura.

Ainda estou aqui , mostra ao mundo uma parte dessa história e sacode as sujeiras do tapete da história oficial brasileira, provocando a discussão crítica a partir da representação na tela, por Fernanda Torres, da coragem direta e indireta, dessas duas corajosas mulheres, Eunice Paiva e Dilma Roussef, num momento em que o fascismo, a extrema-direita retoma com força no mundo, seu discurso sedutor das massas, como o faz o bolsonarismo, aqui no Brasil.

Ainda estou aqui , como obra de arte está cumprindo sua parte, chacoalhando as consciências, colocando em xeque as narrativas golpistas, apoiadas inclusive por empresários e meios de comunicação que no passado tiveram seu papel de colaboradores junto aos órgãos de repressão e tortura, como a Folha de São Paulo e a Rede Globo, que agora parecem querer limitar o filme a somente à premiação do Oscar, sem qualquer discussão acerca do seu conteúdo.

Então, não é só sobre Oscar, é bem mais que isso, pois, sabemos que esse evento da academia de Hollywood é um evento-vitrine da indústria cinematográfica norte-americana e, como tal não é isenta e tem toda uma política de interesses envolvidos, de domínio cultural, inclusive.

Parabéns aos artistas e elenco do filme, ao diretor Walter Salles, que soube traduzir da obra literária de Marcelo Rubens Paiva para o cinema. Fernanda Torres que é uma grande atriz, premiada em diversos festivais pelo mundo afora e com uma carreira consolidada na dramaturgia brasileira. Ao cinema nacional que, diante de tantas adversidades, sempre lutou para se manter vivo, crítico e atuante.

A arte faz sua parte em mostrar e que a justiça brasileira também continue cumprindo a sua, punindo com o rigor da lei os atos golpistas de TODOS aqueles que arquitetaram ou apoiaram o golpe do 08 de janeiro, de 2023 e que está mais do que comprovado, só não ocorreu por conta da ação rápida e efetiva do governo Lula e das instituições democráticas brasileiras, cujas investigações posteriores, mais uma vez revelam que, setores empresariais da sociedade civil agiram e agem, para sabotar a democracia no Brasil.

Nós ainda estamos aqui, mas eles ainda continuam, também.

SEM ANISTIA PARA GOLPISTAS!!!

Materia de Walter dos Santos Advogado e Jornalista

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