O anglicanismo é um dos ramos mais ricos e diversificados do cristianismo, composto por inúmeras vertentes espalhadas pelo mundo. Cada uma delas carrega sua própria identidade litúrgica, teológica e organizacional, sem que nenhuma seja mais ou menos anglicana do que a outra. A herança anglicana baseia-se na sucessão apostólica, na transmissão da fé cristã e na organização eclesiástica, sendo essas características compartilhadas de forma igualitária entre as diversas igrejas anglicanas.
A Diversidade nas Vertentes Anglicanas
O anglicanismo, historicamente, permitiu a autonomia de suas igrejas locais, o que resultou em uma rica variedade de expressões. Temos, por exemplo, a Comunhão Anglicana, que é uma associação de igrejas em comunhão com a Sé de Cantuária, e outras comunhões independentes, como a Anglican Free Communion International. Ambas compartilham as raízes anglicanas, mas se desenvolvem com autonomia em suas práticas eclesiásticas.
Essa diversidade é uma das forças do anglicanismo, pois reflete a capacidade de adaptar-se a diferentes contextos culturais e históricos. Igrejas anglicanas em países da América Latina, Europa, África e Ásia possuem particularidades locais que enriquecem a tradição anglicana global, preservando ao mesmo tempo os elementos fundamentais da fé cristã.
O Contexto Brasileiro e a Liberdade Religiosa
No Brasil, o direito à liberdade religiosa é garantido pela Constituição Federal, que estabelece que o país é um Estado laico e que não há igreja oficial. Embora a Igreja Católica Apostólica Romana tenha o estatuto próprio aprovado em concordato com o governo federal, isso não lhe confere o status de igreja oficial. Nenhuma denominação religiosa, seja anglicana, católica, evangélica ou de outra natureza, tem primazia legal sobre as demais.
As igrejas anglicanas no Brasil, assim como em outros países, desfrutam dessa liberdade para organizar-se de acordo com suas tradições e princípios. Cada igreja anglicana é autônoma em sua administração, mas todas compartilham a mesma herança cristã e anglicana.
A Lei e a Convivência entre Igrejas
É importante destacar que, no Brasil, qualquer tentativa de uma igreja de atacar ou difamar outra é considerada uma violação da lei, caindo sob as regras da intolerância religiosa. A legislação brasileira protege todas as crenças e proíbe a perseguição religiosa, seja entre diferentes denominações cristãs ou entre religiões de naturezas distintas.
A liberdade religiosa no Brasil é assegurada pelo direito constitucional, que protege as comunidades de fé contra atos de discriminação, perseguição ou ataques. Igrejas que se envolvem em práticas de difamação ou desclassificação de outras denominações podem enfrentar penalidades judiciais, reforçando a necessidade de um convívio pacífico e respeitoso.
A Estrutura Anglicana e o Governo Religioso
As igrejas anglicanas possuem uma estrutura organizacional única, frequentemente liderada por bispos que se organizam em concílios ou sínodos. Diferente de algumas igrejas que possuem um governo centralizado, como a Igreja Católica Romana, as igrejas anglicanas são marcadas por uma governança descentralizada. Contudo, em alguns casos, elas podem compartilhar características simbólicas, como a sucessão apostólica e a liturgia rica, que reforçam a continuidade histórica da fé cristã.
A diversidade dentro do anglicanismo, assim como em outras tradições cristãs, não deve ser motivo de divisão ou conflito. Todas as vertentes têm sua legitimidade, e nenhuma é superior ou inferior às outras.
Conclusão
O anglicanismo é, por essência, um espaço de diversidade e inclusão, onde diferentes vertentes coexistem em respeito mútuo. No Brasil, a legislação protege essa pluralidade religiosa, promovendo a liberdade e garantindo que nenhuma instituição seja atacada ou desqualificada por sua fé ou prática. Igrejas anglicanas e outras denominações têm o direito de existir e expressar suas tradições sem interferências, celebrando a riqueza da fé cristã em suas múltiplas formas.
A liberdade religiosa é um bem precioso que deve ser respeitado e protegido. A convivência pacífica entre as diferentes vertentes religiosas não é apenas um dever legal, mas também uma expressão de amor cristão e respeito ao próximo.
Dom frei Lucas Macieira da Silva,Arcebispo
Teólogo,jornalista social e escritor.