O ex-ministro Anderson Torres, que ocupou a pasta da Justiça na gestão de Jair Bolsonaro, confirmou a existência de uma minuta golpista. O documento foi encontrado pela Polícia Federal no celular de Torres e também em uma sala do Partido Liberal, em Brasília. A confirmação ocorreu durante audiência realizada no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta ultima terça-feira.
Anderson Torres é um dos réus apontados como membros da cúpula de uma organização criminosa criada para tentar impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice, Geraldo Alckmin. “Eu levava duas pastas pra minha residência, uma delas contendo a agenda do dia seguinte, eventuais minutas de discurso, coisas nesse sentido, e outra com documentos gerais que vinham no Ministério”, disse Torres ao ser questionado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal que investiga o caso.

A minuta golpista foi descoberta durante as investigações sobre uma organização criminosa criada para operacionalizar o golpe. Bolsonaro, militares e outros envolvidos tramaram para tentar impedir a posse do presidente Lula que ocorreria em janeiro de 2023. A tentativa era de prender autoridades, anular o resultado das eleições e fazer o Brasil mergulhar em uma ditadura como a que foi instaurada em 1964 e acabou com direitos individuais e coletivos, atacou a liberdade de expressão e torturou e matou quem foi opunha ao regime ditatorial.
“Eu realmente nem me lembrei dessa minuta. Me lembrei quando foi apreendido pela Polícia Federal. Foi uma surpresa. O senhor, não sei se estava acompanhando, mas isso era voz corrente na Esplanada dos Ministérios”, afirmou o ex-ministro sobre o documento que iria concretizar o golpe.
Em uma tentativa frustrada de se passar por inocente e minimizar a grave ameaça que a democracia ocorreu entre 2022 e no começo de 2023, Anderson Torres alegou que o documento foi produzido por sua assessoria e disse que não discutiu o tema com outras pessoas.
“Eu nunca tratei isso com ninguém, isso veio até o meu gabinete do Ministério da Justiça, organizado pela minha assessoria, isso veio num envelope dentro, foi parar na minha casa, mas eu nunca discuti esse assunto, eu nunca trou xe isso à tona, isso foi uma fatalidade que aconteceu”, declarou.
Denúncia

Apesar das alegações inconsistentes, Anderson Torres é apontado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como peça-chave da tentativa de golpe, que beneficiaria Bolsonaro. No dia 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes sofreram um atentado, Torres era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
Ele era responsável pela proteção da Esplanada e da capital federal. Porém, permitiram atos antidemocráticos, inclusive com acampamento com milhares de pessoas em frente ao Quartel-General do Exército. Além disso, sob seu comando, a Polícia Militar manteve policiais inexperientes, portando apenas cassete e spray de pimenta para tentar conter uma multidão de golpistas que tentavam minar o regime democrático.