Como previsto, o general Augusto Heleno, em interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta ultima terça-feira (10), optou por permanecer em silêncio diante dos questionamentos do ministro Alexandre de Moraes e do procurador-geral da República, Paulo Gonet. No segundo dia de depoimentos sobre o processo de tentativa de golpe de Estado em 2022, o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) decidiu responder apenas as perguntas formuladas por seu advogado, Matheus Milanez. O general, contudo, não conseguiu esconder o golpismo que lhe é peculiar e, em uma espécie de ato falho, afirmou que não havia “oportunidades” para romper a ordem institucional no país. Para a irritação de Milanez.

“O senhor nunca defendeu medidas inconstitucionais?”, questionou o advogado, a certa altura: “Não havia oportunidades”, retrucou Heleno, deixando o advogado visivelmente contrariado. Milanez, em mais de uma ocasião, foi obrigado a refazer a pergunta para que o general não se comprometesse ainda mais.

Para a deputada federal Erica Kokay (PT-DF), não há dúvida de que Heleno confessou um crime. “O advogado até tentou consertar, mas o general Augusto Heleno já havia cometido sincericídio e admitido plano golpista”, postou a parlamentar no X.
Em outro momento, o advogado insistiu: “O senhor coordenou uma ação da Abin [Agência Brasileira de Inteligência] ou orientou a Abin para que a agência produzisse relatórios e documentos com informações falsas sobre a eleição de 2022?”
“De maneira nenhuma. Não havia clima. O clima da Abin era muito bom”, devolveu Heleno. “A pergunta é ‘sim’ ou ‘não’, alertou Milanez ao general, que balbuciou um “porra, desculpa”.
O general se enrolou ainda para explicar seu envolvimento com a Abin, algo que havia sido confirmado pelo próprio Heleno na gravação de julho de 2022, quando disse que tinha acertado com o diretor da agência para infiltrar um “elemento” na campanha presidencial de 2022.
“Eu realmente conversei com o Victor, que era à época o diretor interino da Abin, para que fosse realizado um acompanhamento das eleições presidenciais para evitar que acontecesse algo como ocorreu com Bolsonaro na facada de Juiz de Fora”, desconversou.
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, “as respostas imprecisas do general, com possibilidade de interpretações diversas, pareceram causar apreensão no advogado de Heleno. Em diversos momentos ele precisou refazer perguntas e pedir respostas simples para confirmar ou negar informações”.
“Milanez tentou ainda antecipar o fim das respostas do general”, apontou a reportagem.

Pelas redes sociais, o líder do PT Lindbergh Farias (PT-RJ) postou um vídeo com as falas de Heleno na reunião de 2022, quando esbravejou e falou e dar soco na mesa. “O tigrão contra a democracia virou um gatinho no banco dos réus”, afirmou o líder.