Ao contrário do que dizem os livros sobre aqueles tempos, Ernesto Geisel, que presidiu o Brasil entre 1974 e 1979, não queria ser sucedido no cargo por João Baptista Figueiredo, último chefe de governo do ciclo militar iniciado em 1964.
Essa é uma das afirmações feitas pelo ex-senador Marco Maciel em entrevista que permaneceu inédita durante mais de 15 anos. “Tenho certeza de que ele indicou sob grande constrangimento”, enfatizou ele.
O depoimento deu origem ao documentário Marco Maciel: bastidores de um país em transe, que estreia às 21h de segunda-feira (1º de abril), na TV Senado e ficará disponível no canal da emissora no YouTube.
Gravado como parte de uma série de entrevistas feitas com parlamentares, a propósito da passagem dos 20 anos da Constituição Federal promulgada em 1988, o depoimento distinguiu-se dos demais por duas razões: trouxe revelações muito interessantes sobre a história recente do país; e elas vieram acompanhadas do pedido para torná-las públicas apenas depois da morte do entrevistado.
Para o historiador e consultor do Senado Marcos Magalhães, coordenador da série de entrevistas realizadas em 2008, ao ser ouvido naquele momento, o então senador pretendia “prestar um depoimento para a posteridade”.
Também ouvido no documentário, o jornalista Ricardo Noblat ressalta outro aspecto interessante da entrevista. A desenvoltura com que Maciel fala de certos assuntos contrasta com a extrema discrição que demonstrou ao longo de uma vida pública na qual exerceu alguns dos mais importantes cargos do país: além de senador, foi vice-presidente da República, presidente da Câmara dos Deputados, governador de Pernambuco e ministro da Educação e da Casa Civil. “Ele era extremamente gentil, mas era o anti-notícia. Você obtinha qualquer coisa em conversa com ele, menos notícia”, diz Noblat.
Quanto à indicação de Figueiredo, por exemplo, Marco Maciel a atribui a “pessoas dentro do palácio que pediram ou quase exigiram” sua indicação. De onde saíram tais pedidos? Do Ministério da Justiça, à época chefiado por Armando Falcão, e do Serviço Nacional de Informações, o SNI, responde o ex-senador.
No documentário, Marco Maciel também relata os bastidores da edição do chamado “pacote de abril” — conjunto de medidas baixadas em 1977 pelo governo Geisel após manter fechado por duas semanas o Congresso Nacional — e conta como nasceu a articulação que levaria à eleição de Tancredo Neves em 1985, pondo fim a 21 anos de regime militar.
Integra ainda o documentário o depoimento da viúva do ex-senador, Anna Maciel, que fala do longo sofrimento por que passou o marido após receber o diagnóstico da doença de Alzheimer.
Materia envida pela assessoria de Cominicação do Senado Federal