SÃO GONÇALO (RJ) — Aos 61 anos, Roberto de Avelar Coelho da Silva Azevedo enfrenta uma batalha silenciosa e solitária. Padre ortodoxo sem vínculo empregatício e sem remuneração pela Igreja, Roberto sempre viveu da própria força, buscando trabalhos que garantissem sua subsistência com dignidade. Mas desde um incidente ocorrido em um grupo de WhatsApp com um bispo da Igreja Católica Carismática em Minas Gerais, sua vida virou de cabeça para baixo.
“Foi uma discussão, uma troca de palavras, nada mais”, relata Roberto. A conversa, no entanto, resultou em um processo judicial movido pelo bispo Marcelo Fernandes Teodoro. Desde então, seu nome passou a figurar nos registros públicos do site Jusbrasil — uma plataforma que reúne dados de processos da Justiça brasileira.
A presença de seu nome no site se tornou uma barreira invisível e implacável. “Você manda currículo, faz entrevista, e tudo vai bem… até olharem seu nome no Google. Quando aparece lá que você responde a um processo, eles simplesmente cortam o contato”, lamenta.
O caso mais doloroso foi a perda de uma vaga como porteiro noturno na empresa de ônibus Nossa Senhora do Amparo, em Maricá — conhecida pelo bom salário, benefícios familiares e estabilidade. “Já tinha feito até o exame admissional”, lembra ele, com tristeza. “Era um bom emprego, que ia mudar minha vida, mas perdi por causa desse processo.”
Sem trabalho e dependendo da Farmácia Popular para obter os remédios de que precisa, Roberto vive hoje uma realidade dura, agravada pelas chuvas que dificultam até mesmo sair para entregar currículos.

O alerta que fica: o perigo das palavras no WhatsApp
O caso de Roberto é mais do que uma denúncia pessoal — é um alerta para todos que usam redes sociais e aplicativos de mensagens como o WhatsApp. “As palavras escritas, mesmo em momentos de emoção ou impulso, podem ser interpretadas como ofensa, calúnia ou difamação, e isso vira um processo. E um processo, mesmo que sem condenação, pode arruinar a vida de uma pessoa comum”, ele afirma.
De acordo com advogados especializados em direito digital, casos assim têm se tornado cada vez mais comuns. As mensagens trocadas em grupos podem ser usadas como provas em processos judiciais. E o simples fato de responder a um processo já impacta diretamente a vida profissional de uma pessoa.
Sem salário, sem apoio, mas com fé
Apesar das dificuldades, Roberto continua buscando oportunidades. “Amanhã tenho que sair, debaixo de chuva ou não, para buscar meus remédios e entregar currículo. Não posso parar”, diz.
Hoje, sua história ecoa como um apelo à empatia e à justiça. É também um chamado para que a sociedade e as empresas revejam a maneira como julgam pessoas com processos em andamento — especialmente quando esses processos nascem de situações banais e não envolvem crimes graves.