“Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (João 16:33)
As palavras de Jesus Cristo ressoam hoje com um vigor assustador. Vivemos em um mundo que, como Ele profetizou, está imerso em aflições e perseguições. Na América Latina e em outras partes do mundo, a intolerância religiosa se manifesta em ataques, silenciamentos e tentativas de deslegitimar a Igreja de Cristo, especialmente aquelas que ousam ser voz profética em meio às injustiças.
O Contexto Profético da Perseguição
A perseguição à Igreja não é novidade. Jesus, durante Seu ministério, advertiu repetidamente aos discípulos sobre as dificuldades que enfrentariam:
“Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa.” (Mateus 5:11)
“Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.” (João 15:18)
“Sereis odiados de todos por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até o fim será salvo.” (Mateus 10:22)
A profecia de Cristo não apenas alertava sobre as aflições, mas também nos convidava a perseverar com coragem. A intolerância religiosa que hoje enfrentamos não é apenas uma expressão de ódio, mas uma reação à voz profética que se ergue contra as estruturas de poder que perpetuam a desigualdade e a opressão.
A Teologia da Libertação e o Exemplo de Mártires
A Teologia da Libertação, movimento que floresceu na América Latina, é um lembrete poderoso de que a fé cristã deve ser encarnada na luta pelos pobres e marginalizados. Figuras como São Oscar Romero, Dom Hélder Câmara e tantos outros mártires deram suas vidas por acreditarem no Evangelho como instrumento de libertação. Romero declarou pouco antes de seu martírio: “Se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho.”
Esses homens e mulheres entenderam que o seguimento de Cristo exige sacrifício e coragem. Eles nos ensinam que ser profeta é tomar o cajado da justiça, erguer a voz pelos que não têm voz e confrontar o mal, mesmo sob risco de perseguição.
A Perseguição Interna e o Silêncio dos Líderes
Paradoxalmente, a perseguição que enfrentamos não vem apenas de fora, mas muitas vezes do próprio seio da Igreja. Líderes que deveriam ser luz e exemplo se calam por medo, conveniência ou, em alguns casos, pela inveja e competição. Esse silêncio é cúmplice das injustiças e trai o chamado de Cristo à unidade e à coragem.
A Igreja, em suas diversas expressões, precisa reconhecer que estamos todos no mesmo barco. A luta contra a intolerância religiosa é uma luta coletiva, e o silêncio diante da perseguição é uma afronta à missão profética que nos foi confiada.
O Cajado da Libertação
Jesus Cristo, ao falar sobre as perseguições, também nos deu uma missão clara: sermos luz do mundo e sal da terra (Mateus 5:13-14). Isso significa que, mesmo em meio às adversidades, devemos continuar a proclamar a mensagem do Evangelho com ousadia.
Erguer o cajado da libertação implica:
1. Denunciar as injustiças: Assim como os profetas do Antigo Testamento e os mártires da Teologia da Libertação, devemos confrontar as estruturas que perpetuam a pobreza, o preconceito e a opressão.
2. Fortalecer a unidade: Devemos superar divisões internas e nos lembrar de que somos corpo de Cristo, chamados a lutar juntos.
3. Superar o medo: O medo paralisa, mas a fé em Cristo nos dá força para resistir. “Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio.” (2 Timóteo 1:7)
Conclusão: Um Chamado à Profecia
Vivemos tempos difíceis, mas não sem esperança. A intolerância religiosa e as perseguições são um lembrete de que a missão de Cristo ainda é relevante e desafiadora. Cabe a nós, como Igreja, tomar o bastão da profecia, erguer a voz pelos pobres e marginalizados e ser luz em meio às trevas.
Jesus venceu o mundo, e n’Ele também venceremos. Nossa tarefa é perseverar, fortalecer nossa fé e nunca esquecer que somos chamados a ser profetas em um mundo que tanto precisa ouvir a verdade libertadora do Evangelho.
Que Deus nos dê a coragem de sermos fiéis à nossa missão, mesmo em meio às aflições. Afinal, “bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.” (Mateus 5:10)
Dom frei Lucas Macieira da Silva Teólogo, jornalista social e escritor Primaz Arcebispo Anglicano