
O cenário já tenso com a morte do Papa Francisco, ocorrida no último dia 21 de abril, ganhou contornos de escândalo religioso. De Sacochal a Roma, o mundo católico se espanta com as declarações do cardeal Giovanni Angelo Becciu, que, apesar de ter sido condenado por corrupção e destituído de seus direitos cardinalícios, afirmou que irá participar do conclave que elegerá o novo pontífice.
Becciu, hoje com 76 anos, declarou publicamente à imprensa italiana: “Estarei lá. Ninguém me impede.” A frase reverberou como um trovão nos corredores do Vaticano e causou um verdadeiro trago de barraco religioso nos bastidores da Igreja.
Do topo à queda
Antes do escândalo, Becciu era uma das figuras mais influentes do Vaticano, atuando como número dois da Secretaria de Estado e depois como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Tudo ruiu em 2020, quando veio à tona seu envolvimento na compra de um prédio de luxo em Londres com recursos desviados das finanças vaticanas — dinheiro que também teria sido canalizado para entidades dirigidas por seus irmãos.
O Papa Francisco, que à época adotava uma postura firme contra a corrupção dentro da Cúria, aceitou a renúncia de Becciu e lhe retirou os direitos ligados ao cardinalato, incluindo o direito de votar ou ser votado em um conclave.
Em dezembro de 2023, o cardeal foi condenado a cinco anos e meio de prisão pelo tribunal vaticano, acusado de peculato, abuso de poder e má gestão de fundos da Santa Sé — tornando-se o primeiro cardeal da história moderna a ser condenado criminalmente pela justiça vaticana.
Vaticano tenta conter a crise
Mesmo com seu nome oficialmente ausente da lista de cardeais eleitores divulgada pelo Vaticano após a morte de Francisco, Becciu insiste em participar da escolha do novo papa, gesto considerado sem precedentes e de alta gravidade institucional.
Especialistas consultados pela Gazeta Paulista afirmam que a presença de Becciu no conclave, ainda que improvável, poderia gerar uma crise de legitimidade na eleição do próximo pontífice. “Se ele de fato aparecer e for autorizado a entrar, haverá um terremoto na Igreja. Isso abre uma ferida grave na confiança das normas que regem o governo da Igreja”, afirmou um professor de Direito Canônico que preferiu não se identificar.
Rumo ao Conclave
A expectativa agora é sobre como a Guarda Suíça e o Colégio dos Cardeais lidarão com a possível chegada de Becciu ao conclave. Até o fechamento desta edição, a Sala de Imprensa da Santa Sé não havia se manifestado oficialmente sobre o caso.
A eleição do próximo papa está prevista para os próximos dias, na Capela Sistina, com 117 cardeais eleitores oficialmente reconhecidos. Giovanni Becciu, segundo o Vaticano, não está entre eles.
Materia de Iranildo Macieira da Silva, correspondente especial